grávida em trabalho de parto debruçada na bola de pilates e sendo apoiada por médica obstetra

Fazer força sem dilatação completa

À medida que o bebé desce no canal de parto, vai pressionando o pavimento pélvico e, a certa altura, surge uma vontade incontrolável de fazer força.* Neste momento, costuma ser feito um toque vaginal para confirmar se a dilatação está completa e «autorizar» a grávida a fazer força.

Mas será que a grávida não pode simplesmente fazer o que sente necessidade de fazer, com ou sem dilatação completa?

Primeiro que tudo, a dilatação encontrada num toque vaginal fora do momento da contração é diferente da dilatação durante a contração, principalmente em mulheres com partos anteriores. Já me aconteceu estar a fazer um toque vaginal e uns 5cm de dilatação passarem rapidamente a dilatação completa, pela descida do bebé durante uma contração . **

É muito difícil (diria mesmo que é quase impossível, excepto se for usada epidural) fazer com que uma mulher pare de fazer força. Seria o equivalente a pedir a alguém que parasse de vomitar e pode ser angustiante para a grávida, porque fica preocupada com a situação mas não consegue contrariar o seu corpo.

Além disso, não existem estudos que mostrem que fazer força antes dos 10cm esteja associado a desfechos adversos, tais como, o colo do útero ficar inchado ou rasgar.

Possivelmente, essa sensação de fazer força tem um propósito na fisiologia do parto, como ajudar na rotação ou flexão do bebé, senão não seria tão comum (cerca de 7% dos partos), nem tão incontrolável ou, então, já teriam surgido estudos a mostrar desfechos adversos quando acontece. O colo do útero não é uma parede mas sim uma estrutura com alguma elasticidade, podendo mudar de características num curto espaço de tempo.


Quando uma grávida me diz que sente vontade de fazer força a minha resposta costuma ser “Que bom! Faz o que tens a fazer…”, e só faço toque vaginal se entretanto surgir um motivo para isso.***


🤰 Confiemos no corpo da mulher.

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Referências:

Tsao, Nancy. “Early Pushing Urge before Full Dilation : A Scoping Review.” R. N.p., 31 Jan. 2015.

*Esta vontade de fazer força pode não surgir ou ser menos intensa se estiveres sob o efeito de epidural.

**Não estou a recomendar que os toques vaginais sejam feitos durante a contração, visto que será mais desconfortável.

***A algumas grávidas cujo parto acompanhei foi-lhes pedido para ser feito toque vaginal por terem referido que tinham vontade de fazer força, mas apenas por eu ainda não estar presente na maternidade e ter que perceber a que velocidade «voar» para lá.

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