grávida em trabalho de parto debruçada na bola de pilates e sendo apoiada por médica obstetra

Probabilidade de parto vaginal após cesariana

Para quem tem cesariana anterior, a decisão de avançar para uma tentativa de parto vaginal após cesariana (TPVAC) ou optar por repetir a cesariana de forma programada costuma gerar alguma ansiedade.

Sabemos que um parto vaginal após cesariana (PVAC) será a opção que acarreta menos riscos para a grávida (0.2% de morbilidade grave, como ruptura uterina, necessidade de cirurgia para remover o útero ou lesão cirúrgica), que a cesariana programada apresenta uma probabilidade intermédia de risco (0.8%) e que as grávidas que necessitam de uma cesariana durante uma tentativa de parto vaginal após cesariana são as que apresentam mais complicações graves (3.8%).

Então, seria útil identificar as grávidas que têm uma maior probabilidade de precisar de uma cesariana durante o trabalho de parto, para tentar diminuir os seus riscos…

O sucesso de uma TPVAC pode chegar a 75-80% mas depende de múltiplos fatores anteparto e intraparto, e inclusive varia entre as várias instituições e profissionais de saúde envolvidos na assistência.

Quem tem um parto vaginal anterior (além da cesariana) tem uma maior probabilidade de sucesso e, por outro lado, a indução do parto diminui a probabilidade de parto vaginal, quando comparada com o início espontâneo do trabalho de parto.

Com o intuito de tornar a previsão de sucesso mais objectiva e individualizada, criaram-se calculadoras de probabilidade de parto vaginal após cesariana.

No site da Maternal Fetal Medicine Units Network encontram uma ferramenta gratuita que prevê a probabilidade de sucesso de uma TPVAC com base em informação disponível logo na primeira consulta de vigilância da gravidez, como a idade materna, história obstétrica e motivo da cesariana anterior. Não estão incluídos fatores que surgem no final da gravidez e que são relevantes na probabilidade de sucesso de um trabalho de parto após cesariana, como a estimativa de peso fetal ou se o trabalho de parto teve um início espontâneo ou induzido.

Atualmente, todas as calculadoras existentes têm limitações e nenhuma foi sujeita a estudos prospectivos que avaliem se o seu uso na prática clínica diminui as complicações para as grávidas e bebés, sendo também impossível prever que grávidas terão uma ruptura uterina em trabalho de parto.

⚠️ Não existe um valor limite único ou universal para determinar se uma grávida deve tentar ou não o parto vaginal.

O valor obtido não deve ser usado isoladamente para decidir a via de parto nem deve ser motivo para desencorajar uma grávida que esteja motivada para uma TPVAC.

Como as calculadoras têm um baixo valor preditivo negativo, um resultado baixo não significa que não vá ser possível acontecer um PVAC.

Na minha prática não costumo usar por rotina estas ferramentas. Sinto que têm potencial para gerar ansiedade desnecessária e que não acrescentam muito à discussão. Possivelmente a minha opinião é influenciada por a maioria das grávidas que recorrem à minha consulta estarem extremamente motivadas para ter um parto vaginal, querendo acima de tudo compreender o que está ao seu alcance para diminuir o risco de complicações.

A escolha da via de parto após cesariana deve ser da grávida, depois de informada sobre os riscos e benefícios de cada opção e tendo também em conta as suas experiências anteriores, probabilidade de sucesso, evolução da gravidez atual e plano de ter mais filhos.

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Referências:

ACOG Practice Bulletin No. 205: Vaginal Birth After Cesarean Delivery. Obstet Gynecol. 2019;133(2):e110-e127. doi:10.1097/AOG.0000000000003078

Bruno AM, Allshouse AA, Metz TD. Trends in Attempted and Successful Trial of Labor After Cesarean Delivery in the United States From 2010 to 2020. Obstet Gynecol. 2023;141(1):173-175. doi:10.1097/AOG.0000000000004998

Eden KB, McDonagh M, Denman MA, et al. New insights on vaginal birth after cesarean: can it be predicted?. Obstet Gynecol. 2010;116(4):967-981. doi:10.1097/AOG.0b013e3181f2de49

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