grávida em trabalho de parto debruçada na bola de pilates e sendo apoiada por médica obstetra

Suplementação de ferro na gravidez

Não existe muito consenso sobre o tema da suplementação de ferro na gravidez.

Primeiro é importante reconhecermos que é normal algum grau de anemia na gravidez, por diluição do sangue (o que corresponde a uma adaptação normal do corpo à gravidez). Por isso, não podemos usar os mesmos valores de referência para a hemoglobina (Hb) e hematócrito (Hc) que na pessoa não-grávida.

Assim, considera-se que existe anemia se:

  • 1º trimestre Hb <11,0 g/dL (equivalente a Hc <33%);
  • 2º trimestre Hb <10,5 g/dL (equivalente a Hc <32%);
  • 3º trimestre Hb <11,0 g/dL (equivalente a Hc <33%);
  • Pós-parto Hb <10,0 g/dL (equivalente a Hc <30%).

Claro que deve existir bom senso… algumas pessoas podem ter uma descida muito abrupta da hemoglobina na gravidez, ainda que com níveis superiores aos referidos acima, e beneficiar de uma avaliação para determinar a causa dessa descida e tratamento adequado.

Sobre o ferro, sabemos que a gravidez é um momento da vida em que as necessidades de ferro aumentam e que algumas grávidas não conseguem suprir esse aumento com as suas reservas nem com a dieta habitual. Também é consensual que a causa mais comum de anemia na gravidez é por falta de ferro.

Analiticamente suspeitamos de anemia por falta de ferro (anemia ferropénica) se, além dos valores de hemoglobina diminuídos, tivermos a ferritina abaixo de 40 ng/mL.

Ainda que a suplementação de ferro por rotina (ou seja, a toda a gente, independentemente de terem anemia ou não) na gravidez esteja associada a menor risco de anemia por falta de ferro no final da gravidez, esta suplementação por rotina não tem benefícios comprovados nos desfechos clínicos para mães e bebés (tamanho do bebé, prematuridade,  indice de Apgar, taxa de cesariana).

Daí a falta de consenso nas recomendações quanto à suplementação de ferro: algumas organizações recomendam a suplementação por rotina de todas as grávidas desde o início da gravidez, outras a suplementação a partir do 2º trimestre e outras a suplementação apenas se surgir anemia (desde que as reservas de ferro sejam adequadas no início da gravidez). A DGS recomenda a suplementação de ferro a partir do 2º trimestre de gravidez no seu “Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco”.

Existindo anemia ferropénica não existe dúvida que deve ser feito o tratamento com suplementação de ferro (oral ou endovenoso em alguns casos) e podendo mesmo ser necessária a transfusão sanguínea.

E porque é que algumas pessoas tentam evitar a suplementação de ferro? A suplementação de ferro por via oral tem efeitos adversos gastrointestinais bastante comuns: gosto metálico, náuseas, flatulência, obstipação, diarreia, desconforto no estômago e/ou vómitos.

Uma forma de tentar minimizar esses efeitos adversos pode ser tomar o ferro em dias alternados (em vez de diariamente) depois de surgir evidência que doses elevadas de ferro são potencialmente contraproducentes levando a diminuição da absorção do ferro e aumento dos efeitos adversos sem melhorar os niveis de ferro ou a anemia.

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Referências:

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Cantor AG, Bougatsos C, Dana T, Blazina I, McDonagh M. Routine iron supplementation and screening for iron deficiency anemia in pregnancy: a systematic review for the U.S. Preventive Services Task Force. Ann Intern Med. 2015;162(8):566-576. doi:10.7326/M14-2932

Anemia in Pregnancy: ACOG Practice Bulletin Summary, Number 233. Obstet Gynecol. 2021;138(2):317-319. doi:10.1097/AOG.0000000000004478

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Scientific Opinion on Dietary Reference Values for iron. EFSA Journal 2015;13(10):4254. doi: https://doi.org/10.2903/j.efsa.2015.4254

Ruiz de Viñaspre-Hernández R, Gea-Caballero V, Juárez-Vela R, Iruzubieta-Barragán FJ. The definition, screening, and treatment of postpartum anemia: A systematic review of guidelines. Birth. 2021;48(1):14-25. doi:10.1111/birt.12519

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