grávida em trabalho de parto debruçada na bola de pilates e sendo apoiada por médica obstetra

Papel do CTG na vigilância da gravidez

Já sabemos que o final da gravidez vem recheado de um nervoso miudinho e expectativa sobre quando finalmente o teu bebé vai estar nos teus braços e que daríamos tudo para saber quando vai acontecer…

Assim, habitualmente após fazer um CTG (cardiotocograma) a primeira pergunta é: “Será que falta muito para o parto?”, na esperança que esse exame ajude a quebrar o suspense.

Mas… não dá para prever quando será o parto através do CTG!

Então para que serve o CTG?

O CTG é um exame que regista continuamente durante um período de tempo os batimentos cardíacos do bebé (na linha de cima) e as contrações do útero (na linha de baixo).

Pode ser feito antes ou durante o trabalho de parto. Hoje vamos conversar sobre fazer CTG antes do início do trabalho de parto, como parte dos exames da vigilância da gravidez. O objectivo é avaliar o bem-estar do bebé. Não é para avaliar se existem contrações ou se o trabalho de parto já começou.

O que é que gostamos de ver num CTG antes do início do trabalho de parto?

1 – Gostamos que a linha de base dos batimentos cardíacos esteja entre 120 e 160 bpm (batimentos por minuto).

2- Que existam pelo menos 2 acelerações em 20 minutos (ou seja, que o bebé esteja reactivo).

3- Também é bom existir variabilidade na frequência cardíaca fetal (ou seja, não estar sempre a bater ao mesmo ritmo).

4 – Não gostamos de ver no CTG desacelerações (diminuição dos batimentos cardíacos) mas nem todas as desacelerações são preocupantes e motivo para antecipar o parto.

Caso não se verifiquem as tais acelerações, o mais provável é o bebé estar num período de sono e habitualmente prolongamos o exame para vermos se acorda (os períodos de sono do bebé costumam durar uns 40 minutos).

Também se costuma pedir à grávida (eu inclusive também o faço) para ingerir algo com açúcar para melhorar o CTG, no entanto não existem estudos que digam que isso tenha vantagens ou melhore mesmo o CTG.

Se mesmo assim não ficar reactivo (ou se existirem desacelerações), deve ser feita uma ecografia para avaliar o perfil biofísico do bebé (uma explicação mais detalhada sobre este exame fica para outro dia, mas, resumidamente, consiste em avaliar ecograficamente alguns parâmetros, incluindo a quantidade de líquido amniótico, para avaliar o bem-estar do bebé).

Mas, o CTG não é um exame perfeito:

– uma metanálise com ensaios clínicos randomizados (ou seja, um estudo de boa qualidade) não conseguiu provar que este exame melhorava os desfechos perinatais;

– tem uma grande (55-90%!) probabilidade de falsos positivos (ou seja, o CTG não estar reactivo mas estar tudo bem);

– existem também falsos negativos (ou seja, o CTG estar reactivo mas acontecer uma morte fetal intrauterina nos dias seguintes) mas é muito pouco provável (1,9 mortes intrauterinas na semana seguinte ao exame por 1000 CTGs normais).

Então, quando se deve fazer CTG?

Não há consenso sobre quando iniciar a realização de CTG ou qual a periodicidade.

Há quem prescreva por rotina a toda a gente, semanalmente, a partir das 37 semanas (ou antes, em alguns casos). Há quem diga que, se não existir nenhuma doença ou alteração na gravidez, apenas se deve fazer após as 41 semanas. Mesmo nas grávidas com doenças (diabetes, hipertensão, restrição de crescimento) os protocolos são variáveis. Por isso, não vou colocar aqui regras e deverás conversar com a tua médica assistente sobre o que ela acha melhor para ti.

Na minha prática não tenho uma regra fixa para propor o CTG às grávidas que acompanho. Além da sua situação clínica, também tenho em conta a sua expectativa, grau de ansiedade e o que a minha intuição me diz (lembram-se do “I” no acrónimo B.R.A.I.N? Também o uso na minha prática clínica com muita frequência).

Sobre as contrações… tanto podes ter imensas registadas no CTG e o parto acontecer passado semanas como não ter nenhuma e passado umas horas tudo começar. Sinceramente, excepto se existirem desacelerações da frequência cardíaca do bebé ou for prematuro, até dispenso a parte do registo das contrações e nem olho para isso.

Não existindo forma de prever quando vai acontecer, o que vais escolher fazer nas últimas semanas de gravidez? Esperar ou desfrutar?

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Referências:

Grivell RM, Alfirevic Z, Gyte GM, Devane D. Antenatal cardiotocography for fetal assessment. Cochrane Database Syst Rev. 2015;2015(9):CD007863. Published 2015 Sep 12. doi:10.1002/14651858.CD007863.pub4

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Glantz C, D’Amico ML. Lack of relationship between variable decelerations during reactive nonstress tests and oligohydramnios. Am J Perinatol. 2001;18(3):129-135. doi:10.1055/s-2001-14527

Meis PJ, Ureda JR, Swain M, Kelly RT, Penry M, Sharp P. Variable decelerations during nonstress tests are not a sign of fetal compromise. Am J Obstet Gynecol. 1986;154(3):586-590. doi:10.1016/0002-9378(86)90606-x

Pillai M, James D. The development of fetal heart rate patterns during normal pregnancy. Obstet Gynecol. 1990;76(5 Pt 1):812-816. doi:10.1097/00006250-199011000-00017

Tan KH, Sabapathy A. Maternal glucose administration for facilitating tests of fetal wellbeing. Cochrane Database Syst Rev. 2012;2012(9):CD003397. Published 2012 Sep 12. doi:10.1002/14651858.CD003397.pub2

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