Se quando a bolsa romper o líquido tiver uma cor esverdeada, parece que o teu bebé decidiu fazer recentemente um cocó ainda dentro da tua barriga. Tanto pode ser fluido e mais claro como na imagem da esquerda, como espesso, tipo puré de ervilha, como na imagem da direita.
Os bebés começam a libertar mecónio logo no início da gravidez, por volta da décima semana, fazendo-o frequentemente até à 16ª semana, mas a partir daí é incomum pelo amadurecimento do seu esfíncter anal. Volta a ser mais frequente no final da gravidez, mesmo que não exista nenhuma intercorrência, principalmente após as 41/42 semanas.
Contudo, qualquer tipo de stresse fetal pode resultar na libertação de mecónio, pelo aumento dos movimentos intestinais e relaxamento do esfíncter anal, que acontece quando há compressão do cordão umbilical ou falta de oxigénio. Daí que a sua presença deve levar a uma ida de imediato para o hospital e uma monitorização mais apertada do bem-estar do bebé.
Isto pode parecer estranho e até um pouco assustador, mas é algo bastante comum e, na maior parte dos casos, não é motivo para grande preocupação. Contudo, requer alguma atenção porque o bebé pode inalar (aspirar) esse mecónio, o que pode resultar em problemas respiratórios após o nascimento, num quadro que chamamos de síndrome de aspiração meconial (SAM).
A SAM ocorre em 2 a 10% dos partos em que o líquido amiótico tem mecónio e, hoje em dia, não é considerada um evento pós-parto evitável com a aspiração rotineira da traqueia na sala de parto, mas sim um distúrbio complexo e multifatorial com fatores pré-natais e intraparto.
Depois do parto, a aspiração por rotina do nariz e da boca dos recém-nascidos com líquido amniótico meconial não parece reduzir a probabilidade do desenvolvimento da síndrome de aspiração meconial, pelo que não é recomendada, principalmente se o bebé nascer com um bom tónus e a respirar eficazmente.
Além da monitorização contínua dos batimentos cardíacos do bebé, podemos tentar prevenir a aspiração de mecónio evitando a gravidez prolongada, com indução do parto, e realizando uma amnioinfusão – a introdução de soro no útero durante o trabalho de parto – em casos de líquido amniótico meconial, que parece reduzir a probabilidade da síndrome de aspiração meconial e outros resultados neonatais adversos.
Só é possível saber se existe mecónio depois da bolsa romper visto que não é visível em ecografia, mas não faz sentido romper a bolsa apenas para verificar se há mecónio.
A presença de líquido amniótico meconial não é um motivo por si só para realizar uma cesariana, sendo inclusive possível induzir o parto, excepto se estiver associado a alterações no CTG.
No caso da imagem acima da esquerda, aconteceu uma indução do parto por ruptura prematura de membranas, terminando num parto vaginal, já no parto da imagem da direita, a presença concomitante de infeção intra-amniótica com paragem de progressão do trabalho de parto e alterações do CTG, ditaram a realização de uma cesariana que decorreu sem complicações maternas nem neonatais.
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Referências: