Quando acontece uma perda gestacional no 1º trimestre e ainda não se iniciou a expulsão existem 3 caminhos possíveis: expectante (não fazer nada), medicamentoso e cirúrgico (aspiração uterina).
Pela individualidade de cada uma de nós, escolhas diferentes serão feitas. Umas preferirão deixar o processo continuar espontaneamente (desde que sem sinais de preocupação, tais como infeção ou hemorragia abundante) e outras escolherão o caminho da expulsão e resolução da situação mais rápida.
Não há certos nem errados. As 3 escolhas são consideradas, regra geral, seguras.
Optando por aguardar a expulsão espontânea, sabemos que, em mais de metade acontecerá a expulsão em 2 semanas e cerca de 80% dos casos estarão resolvidos em 47 dias, sem necessidade de qualquer intervenção. A vigilância durante esse período deve ser individualizada à situação clínica e emocional.
Para quem prefere tentar antecipar a expulsão, existem medicamentos sujeitos a receita médica que levam ao amolecimento e abertura do colo do útero e contração uterina. Na maioria das vezes, podem ser tomados em casa mas, em algumas circunstâncias, pode ser vantajosa a vigilância em internamento hospitalar.
Entre 60 e 87% das pessoas que optam pelo uso de medicação (dependendo da medicação usada) conseguirão a expulsão após 1 toma. As restantes poderão optar por repetir a medicação ou avançar para aspiração uterina.
Os efeitos secundários mais frequentes da medicação são gastrointestinais (náuseas, vómitos, diarreia).
A probabilidade de infeção após a medicação é baixa (1-2%) mas, caso surja, deve ser tratada com antibióticos e, se o aborto não estiver completo, deve ser realizada uma aspiração uterina.
A probabilidade de hemorragia abundante (necessitando transfusão sanguínea) após a medicação é também baixa (até 2%), não diferindo muito da probabilidade quando se opta por aspiração uterina.
Optando ou necessitando de aspiração uterina, esta pode ser feita sob sedação e controlo ecográfico. Regra geral, não é necessário nenhum procedimento para preparar o colo uterino para a aspiração e é possível ir para casa após algumas horas. Raramente, pode ser necessário repetir a aspiração.
Existe a preocupação que após o esvaziamento uterino instrumental (aspiração ou curetagem uterina) possam surgir aderências dentro do útero (que prejudiquem uma gravidez subsequente). Contudo, não existem estudos de qualidade que nos mostrem a magnitude desse problema (por isso, a probabilidade será certamente baixa) e, com o uso de aspiração (e não curetagem com um instrumento metálico, como era hábito antigamente) e controlo ecográfico, o risco será teoricamente menor.
Como complicações da aspiração uterina, existe uma baixa probabilidade de perfuração uterina, infeção ou hemorragia (cada uma inferior a 1% dos casos).
Como tudo, cada uma destas opções tem vantagens e desvantagens. Lamento imenso que estejas com esta decisão nas mãos. Segue o caminho que te deixe mais segura e serena.
Relembro este direto sobre “Perdas gestacionais no 1º trimestre”.
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Referências:
Tão esclarecedor e tão necessário este post!
Em Março de 2020, acabada de rebentar a pandemia em Portugal, a minha gravidez gemelar não progrediu. A ida às urgências por ter visto uma pinta de sangue numa ida ao WC foi um cenário de guerra: marido impedido pela Polícia de passar os portões do Hospital de Évora, recebi o diagnóstico sozinho e o mesmo foi feito a “despachar” e sem indicações das opções a seguir. A pandemia aterrorizava todos e não queriam internar ninguém. Fui para casa sem saber o que aconteceria e depois de esperar quinze dias sem que perdesse qualquer sangue, recorri novamente aos serviços hospitalares, fui internada, foi feita medicação durante três dias e de forma irregular porque os médicos não se entendiam quanto à dosagem a administrar. Tive dores mas a hemorragia era mínima e a expulsão não se concluía. Sem qualquer explicação, ao quarto dia foi-me introduzido um objeto metálico que me causou dores a ponto de desmaiar, processo que se revelou ineficaz, seguindo-se uma curetagem, porque – palavras do médico – «ou vai ou racha». Tive alta 20 minutos depois de acordar e não me foi dada qualquer indicação dos procedimentos a seguir em casa. Procurei ajuda numa consulta privada. Comecei a ter dores nas relações e muito desconforto abdominal. Após consulta de Fisioterapia Pélvica tive de fazer várias sessões para resolver a questão das aderências e da falta de mobilidade do útero.