Depois de uma perda gestacional no primeiro trimestre de gravidez, uma das angústias é: será que vou passar por isto novamente?
O facto de na maioria dos casos não se identificar o motivo da perda gestacional e não existir nenhuma intervenção que diminua significativamente o risco de aborto, faz com que as pessoas ao engravidar novamente se sintam a jogar à roleta, com receio de terem azar novamente.
Felizmente, ao contrário da roleta, o mais provável é terem sorte e tudo correr bem numa próxima gravidez.
Apenas 2% das mulheres têm 2 perdas gestacionais consecutivas (o que matematicamente pode ser explicado por um azar repetido) e uma ainda menor percentagem tem 3 perdas consecutivas (0,4 a 1%, o que já torna mais provável existir um fator que está a influenciar as perdas e não apenas o azar inerente às falhas da reprodução humana, daí alguns especialistas apenas recomendarem a investigação de causas de aborto de repetição quando acontecem 3). No entanto também se tem que ter em conta outros fatores como a idade materna e doenças existentes, por exemplo.
Relativamente à idade materna, a probabilidade de aborto espontâneo vai aumentando de 9-17% aos 20-30 anos, 20% aos 35 anos, 40% aos 40 anos até 80% aos 45 anos.
Também são mais prováveis na fase inicial da gravidez: até às 6 semanas o risco de aborto é 22-57%, às 6-10 semanas passa a 15% e após as 10 semanas é 2-3%.
Ter tido uma perda gestacional aumenta a probabilidade de ter uma perda gestacional na segunda gravidez (comparando com quem não teve uma perda gestacional na primeira gravidez) e quando acontece é geralmente por volta da mesma idade gestacional. Enquanto numa primeira gravidez o risco de perda gestacional é 11-13%, na gravidez após perda gestacional passa a 14-21%. Mas vendo por outra perspectiva, que acho muito mais interessante, isto significa que a probabilidade de não se repetir a perda gestacional é 79-86%.
Se tens esta dúvida no coração, recebe o meu abraço. Estou a torcer por ti ❤️
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Referências:
Stirrat GM. Recurrent miscarriage. Lancet. 1990;336(8716):673-675. doi:10.1016/0140-6736(90)92159-f