grávida em trabalho de parto debruçada na bola de pilates e sendo apoiada por médica obstetra

Parto instrumentado – ventosa

Em alguns partos é útil ajudar o nascimento do bebé com a utilização de ventosa.

Geralmente esta é aplicada no decurso de um parto vaginal, mas também pode ser,  ainda que menos frequentemente, durante a realização de cesariana (como na imagem do post).

Já sabemos que não há opções com zero riscos. A decisão de usar um instrumento num parto deve ter em conta o impacto materno, fetal e neonatal do seu uso comparativamente a não usar nenhum instrumento ou realizar uma cesariana.

Em Portugal, cerca de 18% dos partos são instrumentados (ventosa ou fórceps). A escolha entre os dois instrumentos depende da situação clínica e experiência do médico que o vai aplicar.

A ventosa é um instrumento que se adapta à cabeça do bebé e permite fazer alguma tração, após aplicação de vácuo. É importante que os esforços expulsivos maternos continuem durante a ventosa e auxiliem a descida do bebé.

Os motivos mais frequentes para a aplicação de ventosa são:

– estado fetal não tranquilizador;

– período expulsivo prolongado, exaustão materna;

– contraindicação materna para fazer esforços expulsivos prolongados (por exemplo, doença cardíaca materna).

A maioria dos partos por ventosa decorre sem nenhum tipo de complicação ou surgem apenas consequências com baixa probabilidade de deixarem sequelas a longo prazo.

As complicações mais frequentes são: escoriações ou lacerações do escalpe fetal, hematomas na cabeça do bebé e hematomas/lacerações do períneo materno.

O uso de ventosa aumenta a probabilidade de acontecer uma laceração perineal grave (a envolver o esfíncter anal) ou distócia de ombros (e, consequentemente, lesão do plexo braquial).

Uma das complicações que mais nos preocupa é a hemorragia intracraniana do bebé, que pode ser fatal, mas a sua probabilidade é baixa. *

Não está recomendado fazer-se episiotomia por rotina no parto instrumentado. **

Aproximadamente 5% das grávidas que tiveram um parto instrumentado terão um segundo parto instrumentado.

Como qualquer outra intervenção médica, o uso de ventosa no parto apenas deve ser considerado quando os benefícios ultrapassam claramente os seus riscos e com o consentimento da parturiente.

E não te esqueças, as intervenções necessárias no teu parto não te definem.

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📸 Bárbara Araújo Photography, feat. Sandra Silva

Referências:

Pordata, Partos nos hospitais: total e por tipo

Operative Vaginal Birth: ACOG Practice Bulletin, Number 219. Obstet Gynecol. 2020;135(4):e149-e159. doi:10.1097/AOG.0000000000003764

Murphy DJ, Macleod M, Bahl R, Goyder K, Howarth L, Strachan B. A randomised controlled trial of routine versus restrictive use of episiotomy at operative vaginal delivery: a multicentre pilot study. BJOG. 2008;115(13):1695-1703. doi:10.1111/j.1471-0528.2008.01960.x

Ankarcrona V, Zhao H, Jacobsson B, Brismar Wendel S. Obstetric anal sphincter injury after episiotomy in vacuum extraction: an epidemiological study using an emulated randomised trial approach. BJOG. 2021;128(10):1663-1671. doi:10.1111/1471-0528.16663

Lund NS, Persson LK, Jangö H, Gommesen D, Westergaard HB. Episiotomy in vacuum-assisted delivery affects the risk of obstetric anal sphincter injury: a systematic review and meta-analysis. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2016;207:193-199. doi:10.1016/j.ejogrb.2016.10.013

Towner D, Castro MA, Eby-Wilkens E, Gilbert WM. Effect of mode of delivery in nulliparous women on neonatal intracranial injury. N Engl J Med 1999; 341:1709.

Melamed N, Ben-Haroush A, Chen R, Pardo J, Hod M, Yogev Y. Pregnancy outcome and mode of delivery after a previous operative vaginal delivery. Obstet Gynecol. 2009;114(4):757-763. doi:10.1097/AOG.0b013e3181b6f611

* hemorragia intracraniana fetal acontece em 1:2750 cesarianas sem trabalho de parto; 1:1900 partos vaginais sem instrumentos; 1:907 cesarianas em trabalho de parto; 1:860 ventosas; 1:664 fórceps.

** O único estudo randomizado que comparou práticas rotineiras com restritivas de episiotomia não demonstrou que a realização por rotina de episiotomia tivesse vantagens. A realização de episiotomia mediana aumenta o risco de laceração perineal grave. Contudo alguns autores consideram que a episiotomia mediolateral pode ser indicada raramente e de forma selectiva em grávidas com alto risco de lesão perineal grave, após consentimento da grávida, baseando-se, por exemplo, num estudo observacional que mostra que realizando episiotomia mediolateral a 27 mulheres, conseguem prevenir 1 caso de laceração a envolver o esfíncter anal. Na minha prática, há vários anos que não tenho nenhum caso em que tenha considerado vantajosa a sua realização.

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