Inserção velamentosa do cordão umbilical

Cada placenta e cordão umbilical são únicos na sua forma e relação. Mas, enquanto a maioria das vezes é apenas uma questão “estética”, noutros casos pode influenciar o rumo de uma gravidez e parto.

Anteriormente já tinha partilhado uma imagem de uma placenta em que duas partes de placenta estavam ligadas por vasos a correr através das membranas  (vasos velamentosos).

Hoje quero mostrar-vos uma placenta com inserção velamentosa do cordão umbilical.

placenta com cordao com inserção velamentosa

A maioria das vezes o cordão umbilical insere-se no meio da placenta, estando os seus vasos protegidos pela geleia de Wharton em todo o seu percurso.

inserção normal cordão umbilical na placenta esquema

Falamos de inserção velamentosa do cordão umbilical quando este termina em vasos rodeados apenas por membranas, sem geleia de Wharton, antes de chegar à placenta.

Na imagem que partilhei, vemos a veia umbilical a dividir-se e uma artéria umbilical a acompanhar cada ramificação da veia.

inserção velamentosa cordão umbilical esquema

Este tipo de inserção acontece em 1% das gravidezes com 1 bebé (e até 15% dos gémeos que partilham 1 placenta).

A distância percorrida por esses vasos é habitualmente de poucos centímetros mas pode chegar a percorrer o saco gestacional de um lado ao outro. Quanto maior a distância percorrida, mais provável é existir vasa prévia, ou seja, vasos a passarem à frente do colo do útero. Esta situação é mais grave levando, por exemplo, a que o parto não possa acontecer por via vaginal. Neste post não falaremos de vasa prévia mas sim de inserção velamentosa do cordão sem vasa prévia.

Não sabemos o porquê da inserção velamentosa acontecer mas é mais comum quando a placenta está localizada na parte inferior do útero, após procriação medicamente assistida e com idade materna avançada.

Quais os riscos?

O facto dos vasos não estarem protegidos pela geleia de Wharton faz com que estejam mais propensos a serem comprimidos, dobrados ou romperem.

Ainda que a maioria das vezes a gravidez e parto decorram sem complicações, sabemos que a inserção velamentosa aumenta a probabilidade de parto prematuro, restrição de crescimento do bebé, baixo Apgar ao nascer e mortalidade perinatal.

Também aumenta a probabilidade de pré-eclâmpsia, da placenta precisar de ser removida manualmente e do parto terminar numa cesariana.

Como saber se tenho inserção velamentosa do cordão umbilical?

Frequentemente existe o diagnóstico de inserção velamentosa ao longo da vigilância ecográfica da gravidez. Mas pode não ser aparente na ecografia e apenas se descobrir depois do bebé nascer. O facto de não ser feito o diagnóstico na ecografia não significa má prática do ecografista.

Então e o que fazer se for descoberta uma inserção velamentosa durante a gravidez?

Não existem estudos de boa qualidade para fazer recomendações mas a opinião de especialistas baseadas na sua experiência e em estudos mais pequenos é que se deve avaliar cuidadosamente a existência de vasa prévia, vigiar o crescimento do bebé, monitorização contínua do bebé durante o trabalho de parto e não fazer (ou, se necessário, fazer muito gentilmente) a tração do cordão umbilical para a placenta sair.

É preocupante?

A maioria das vezes não surge nenhuma complicação mas faz com que a vigilância seja mais apertada e mais frequentemente surja a necessidade de intervenções médicas.

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Referências:

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