A hemorragia pós-parto (HPP) é uma das principais causas de morte materna em todo o mundo, ainda que o risco absoluto de morte em países com recursos seja bem mais baixo que em países sem recursos (0,01% de mortalidade na HPP no Reino Unido vs 20% de mortalidade em África, ou seja, 1 em 100 000 partos no Reino Unido e 1 em 1000 partos em países sem recursos).
Acontece em 1-3% dos partos e algumas situações que aumentam o risco de HPP são:
🩸 retenção de placenta, placenta anormalmente aderida ao útero ou prévia
🩸 parto instrumentado ou cesariana
🩸 bebé grande
🩸 indução do parto
🩸 trabalho de parto prolongado ou muito rápido
🩸 hipertensão e doenças relacionadas com hipertensão
🩸 história familiar de hemorragia pós-parto
🩸 obesidade
🩸 gravidez resultante de procriação medicamente assistida
🩸 gravidez com >42 semanas
🩸 gravidez gemelar
🩸 aumento do líquido amniótico
🩸 …
Devemos então tentar prevenir esta situação, evitando as situações e intervenções que aumentam o seu risco e administrando ocitocina após o parto (recomendação da OMS para todos os partos).
É também muito importante vigiar o pós-parto de forma a identificá-la atempadamente e atuar de forma apropriada, sendo que cada hospital deve ter um protocolo de HPP e a equipa treinada.
A causa mais frequente de HPP é a atonia uterina (o útero não conseguir manter-se contraído).
Após sair a placenta, a zona onde ela estava “colada” fica a sangrar e, para que deixe de sangrar, é preciso que o útero contraia. Se ele não contrair, vai existir uma hemorragia pela vagina “tipo uma torneira aberta”, com acumulação de coágulos dentro do útero.
Na suspeita de atonia uterina, o primeiro passo é fazer massagem uterina (com a mão, palpando através da barriga) para perceber se o útero está contraído. Caso não esteja, deve ajudar-se os coágulos a sair (pode ser necessário complementar com toque vaginal) e estimular útero a contrair (o músculo do útero responde ao toque, contraindo, por isso é que por vezes têm uma contração se fizerem festinhas na barriga – mas não, não leva a parto prematuro!). Deve também fazer-se medicação para manter o útero contraído (geralmente, uma dose adicional de ocitocina) e avaliar a necessidade de suplementar com ferro. A maioria das situações ficará resolvida neste ponto.
Caso a hemorragia continue, existem outras medicações a ser dadas para contrair o útero e ajudar na coagulação, deve aumentar-se bastante a quantidade de soro administrada por via endovenosa, fazer-se análises para perceber a magnitude da anemia existente e possíveis alterações da coagulação, vigiar-se o volume de urina colocando uma algália e avisar o serviço de sangue da possibilidade de ser necessária uma transfusão de sangue (realizada em cerca de 16% dos casos de HPP).
Podem ser necessários procedimentos mais invasivos como a colocação de um balão dentro do útero, cirurgia para dar pontos à volta do útero ou para cortar o fluxo de alguns vasos que vão dar ao útero ou até mesmo uma histerectomia (remoção do útero, que acontece em cerca de 2% dos casos de HPP).
Quem teve HPP tem 15-18% de probabilidade de ter novamente HPP numa gravidez seguinte (comparando com 5% de risco para quem não teve HPP na gravidez anterior), ainda que o risco dependa do motivo da HPP.
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Referências: